Sou um homem de 49 anos; há 4 anos minha mulher me pediu a separação porque se apaixonou por outro homem e me deixou. Sofri tanto, mas depois de um ano encontrei uma mulher maravilhosa e nasceu um grande amor. Ela é uma mulher solteira, sem casamento nas costas, por isso em quase três anos de convivência teve tantas pausas de reflexão por causa da Igreja. Alguns sacerdotes a aterrorizaram dizendo que estando comigo queimará no inferno e estará no pecado para sempre. Mas eu me pergunto: Mas Deus verdadeiramente pune duas pessoas que se amam? Estamos de acordo com tudo, nos respeitamos, somos um casal exemplar. Padre, eu não posso crer que Deus, que fala de amor e de amar, possa nos fazer o mal nos mandando para o inferno. Deus não marginaliza as pessoas, não é racista. Agora, por que certos sacerdotes fazem terrorismo nos colocando medo?
Resposta do sacerdote
Caro amigo,
1. Compreendo a dor que você experimentou em ter de suportar a erosão do compromisso feito diante de Deus por sua esposa. A traição é a pior coisa que se possa fazer a uma pessoa. Vai além disso, penetra na humilhação do esposo, ou a própria esposa correr atrás de outro(a).
2. Mas o passo que você fez, de ir conviver com outra mulher, foi um passo errado. Antes de ir conviver você deveria ter investigado com um juiz do tribunal eclesiástico para ver se existiam motivos para instruir um processo canônico para declarar nulo o seu vínculo precedente.
3. De fato, diante de Deus você é casado, é ligado a uma outra mulher, você fez até mesmo promessa de fidelidade nos tempos bons e ruins. O ruim chegou até você. Isto não é suficiente para esquecer o que se fez diante de Deus. No dia do matrimônio você também ouviu: “O que Deus uniu o homem não separa”. Portanto, a mulher que convive com você, de fato, está com um homem que, diante de Deus, pertence a outra mulher.
4. O conselho que lhe dou é de verificar com um juiz eclesiástico a consistência do seu matrimônio e se existem motivos suficientes para declarar a nulidade. Neste caso pode proceder com um matrimônio sacramental.
5. No seu argumento, por outro lado, você não está correto. Não é suficiente querer-se bem para dizer que tudo está em ordem. Também os adúlteros se querem bem, mas a relação adúltera permanece uma traição dos cônjuges. Aqueles que vivem uma relação homossexual também dizem que se querem bem. Mas estas relações, segundo São Paulo, são “contra a natureza” (Rm 1,26). Também apaixonar-se por um sacerdote e ter relações sexuais com ele é querer-se bem, mas se trata de um sacrilégio, porque o sacerdote já é comprometido. É um consagrado.
6. Como você vê, não basta querer-se bem. É necessário que se queira bem entre as pessoas que se possam querer bem.
7. Sem dizer que também as relações sexuais foram queridas por Deus com um plano precioso, o qual nas relações mencionadas é frustrado, porque se tratam de relações contraceptivas ou contra a natureza. O que significa que não se trata de autêntico amor porque não se doa em totalidade, ou porque a relação é contra a natureza. E, portanto, não se trata de um relacionamento santificado.
8. Como pode ver, a relação com uma mulher com a qual você convive é errada em diversos pontos. Como pode um sacerdote dar a absolvição a quem não tem a vontade de conformar a própria vida segundo o plano de Deus?
9. Preciso dizer que também outras expressões que usou não são corretas. Deus não manda ninguém para o inferno. E mais, fez e faz de tudo para que ninguém vá. Mas os homens algumas vezes não sabem o que fazer com Ele e com Sua lei, que é plena de amor e o restringem em teoria, ou de fato, da própria vida. Assim o inferno, como diz de maneira exata o Catecismo da Igreja Católica, é “uma autoexclusão da comunhão com Deus” (CIC 1034).
10. Você falou de padres que fazem terrorismo psicológico. Para dizer a verdade eu não conheço nenhum. Temo que até esse seja um dos tantos lugares comuns. Também porque os sacerdotes (desculpe a expressão) não são idiotas, e certas expressões que são de filmes eles não usam.
Lembrarei de você diante do Senhor, de modo que você possa regularizar toda a sua situação e viver segundo Deus, em comunhão com Ele e com aquela que poderá se tornar sua mulher.
Padre Ângelo
Fonte: http://blog.comshalom.org