Como todos podemos constatar, nas palavras e nos fatos, o Papa Francisco tem um amor especial para com os pobres e os sofredores. De facto, desde o início do seu pontificado, sempre nos encorajou, com o seu exemplo e ensinamento, a procurar ser «uma Igreja pobre para os pobres». Convidou a Igreja a sair de si mesma e a deslocar-se às periferias: do mistério do pecado, do sofrimento, da injustiça, da ignorância e da indiferença religiosa, do pensamento, de qualquer forma de miséria. No contacto diário com estas periferias, a Igreja está chamada a levar salvação e amor através do seu serviço caritativo.
Por nosso lado desejamos prestar homenagem também ao serviço e à dedicação de tantas pessoas e instituições generosas. Sobretudo, estamos gratos aos muitos homens e mulheres que dedicaram a própria vida às obras de misericórdia nas partes mais pobres do mundo. Desempenhando a sua obra de caridade, testemunham que Deus ainda ama o mundo e que, através delas, comunica o seu amor e a sua compaixão pelos pobres.
Obediente ao mandamento de Cristo, a Igreja está chamada a dar testemunho do amor de Deus através da prática da caridade. Com efeito, desde os primórdios, o serviço da caridade para com os pobres foi sempre uma das atividades fundamentais da Igreja, juntamente com a administração dos sacramentos e a proclamação da Palavra. Através deste tríplice múnus, a Igreja tem a missão de tornar todos os homens e mulheres participantes da natureza divina do Deus que é amor. A Igreja afirma que a razão de ser da sua missão de caridade são Jesus Cristo e o testemunho do seu amor, prestado no serviço aos pobres. Do mesmo modo, a madre Teresa de Calcutá encontrou sempre inspiração e força em Jesus. A sua vida, o seu testemunho de amor, brotava das lições que o Senhor lhe dava na oração e na contemplação da sua vida e do seu ensinamento. Com o seu serviço de caridade, a religiosa não queria simplesmente fornecer assistência humanitária ou mudar estruturas sociais. Ao receber o prêmio Nobel, a 11 de Dezembro de 1979, afirmou claramente: «Não somos verdadeiros agentes sociais. Talvez aos olhos do povo desempenhamos um trabalho social, mas na realidade somos contemplativas no coração do mundo; com efeito tocamos o corpo de Cristo vinte e quatro horas por dia».
Todas as vezes que olhamos para a imagem da madre Teresa, é-nos recordado que «o amor – cáritas – será sempre necessário, até na sociedade mais justa. Não há ordenamento estatal algum justo que possa tornar supérfluo o serviço do amor. Quem quiser desfazer-se do amor dispõe-se a desfazer-se do homem enquanto homem. Haverá sempre sofrimento que necessita de consolação e de ajuda. Haverá sempre solidão. Haverá sempre também situações de necessidade material nas quais é indispensável uma ajuda em sintonia de um amor concreto pelo próximo» (Deus cáritas est, 28).
A caridade cristã está sempre ao serviço do bem integral de cada ser humano, sem distinção de religião ou raça. A prática da caridade cristã não conta só com a competência profissional, nem se contenta com um compromisso impessoal. O nosso empenho dá-se com um «coração que vê» além das necessidades materiais. Nos pobres que servimos, procuramos ver a inteireza e a integridade quando estão diante de Deus. A madre Teresa é um exemplo convincente do facto que esta sensibilidade não prejudica a eficiência.
No serviço aos mais pobres entre os pobres, a sua fé via além das necessidades materiais deles. Certa vez disse: «Deus identificou-se a si mesmo com o faminto, o enfermo, o nu, o desabrigado; fome não só de pão, mas também de amor, de cuidados, de consideração por parte de alguém; nudez não só de vestuário, mas também daquela compaixão que só poucos sentem por quem não conhecem; falta de lar não só pelo facto de não possuir um abrigo de pedra, mas por não ter ninguém que possa considerar próximo». Esta iniciativa das Nações Unidas exorta-nos a ser sempre fiéis à herança espiritual que nos deixou a beata Teresa de Calcutá.
Robert Sarah, Cardeal presidente do Pontifício Conselho Cor Unum
L’Osservatore Romano
Fonte: www.news.va
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