Há seis meses, no dia 13 de março, o Bispo de Roma que veio do “fim do mundo” apareceu na sacada da Praça São Pedro,
rezou com toda a praça o Pai-Nosso, a Ave-Maria e o Glória e pediu,
antes de dar a bênção aos homens e mulheres da sua nova diocese e do
mundo inteiro, que rezassem primeiro por ele.
A eleição, realizada em um tempo muito
curto, assim como a de seu antecessor, foi uma surpresa. Também foi uma
surpresa, um mês antes, o anúncio da renúncia de Bento XVI. Há dois
elementos que saltam à vista e que ajudam a explicar a atenção e a
simpatia que Francisco suscita, inclusive em ambientes “afastados”. Uma
atenção e simpatia que não dão mostras de diminuir, apesar das previsões
sobre o fim da “lua de mel” midiática feitas pelos que parecem sentir
saudades dos tempos recentes da “Igreja sob ataque”.
O primeiro elemento é o testemunho pessoal da mensagem evangélica:
pequenos e grandes gestos, as pequenas ou grandes decisões cotidianas,
sua capacidade para reunir-se com todos e falar a todos, seu ser
simplesmente ele mesmo, tornaram-no não apenas confiável, mas,
sobretudo, próximo. O Papa é visto por muitíssimas pessoas em todo o
mundo como “um de nós”. Basta recordar o tempo que passa com as pessoas
antes e depois das audiências das quartas-feiras para perceber esta
proximidade do bispo de Roma, que não tem medo da
ternura. Quanto aos demais, as mudanças que houve são evidentes para
todos, em sintonia com o inédito nome que o Papa jesuíta escolheu.
O segundo elemento é o magistério nas homilias diárias da missa na capela de Santa Marta.
Breves comentários sobre a leitura do dia, que se converteram em um
encontro esperado. Uma espécie de “catequese em migalhas” e ao mesmo
tempo profunda e capaz de chegar diretamente ao coração das pessoas.
Este magistério, definido por alguns como “fervorzinho”, é acompanhado
dia após dia pelos crentes, muito mais que as grandes encíclicas ou os
grandes debates culturais.
A mensagem mais importante para Francisco, como ele mesmo disse na homilia da missa na paróquia vaticana de Santa Ana, em 17 de março, é o da misericórdia. “Sem
a misericórdia – disse aos bispos brasileiros em julho –, há pouco a se
fazer hoje, para se inserir em um mundo de feridos que necessitam de
compreensão, perdão e amor”. Necessitamos de uma
Igreja, acrescentou, “capaz de fazer companhia… capaz de decifrar a
noite contida na fuga de tantos irmãos e irmãs”. Necessitamos de uma
Igreja “que não tenha medo de entrar na noite deles e que seja capaz de
cruzar com o seu caminho”.
Que outra coisa, senão justamente esta, teria impulsionado Francisco a tomar caneta e papel para responder pessoalmente às perguntas de Eugenio Scalfari sobre a fé e sobre a figura de Cristo?
Também é compreensível que haja muita
expectativa nos ambientes eclesiásticos e midiáticos em relação às
anunciadas reformas estruturais: maior agilidade da Cúria, a urgente,
necessária e radical cura dos órgãos financeiros vaticanos, tantas vezes
ocasião de contra-testemunhos evangélicos; as nomeações nos dicastérios
da Santa Sé. Todas elas reformas necessárias, que devem ter um único
critério, como explicava o cardeal Bergoglio em sua intervenção durante
as congregações gerais antes do Conclave: o do “bem das almas”.
No entanto, como observou o padre
Federico Lombardi, este aspecto das “chamadas reformas de estrutura”
(tão discutidas entre os especialistas do setor) não deve ser
menosprezado. Porque, como disse Lombardi à Rádio Vaticano, “o que conta
é o coração da reforma perene da vida da Igreja, e neste sentido o Papa
Francisco, com o exemplo, com sua espiritualidade, com sua atitude de
humildade e proximidade, quer aproximar-nos de Jesus, quer converter-nos
em uma Igreja peregrina, que está perto da humanidade de hoje, em
particular da humanidade que sofre e necessita mais do que ninguém da
manifestação do amor de Deus”.
É justamente esta atitude de
“humildade e de proximidade”, esta volta ao essencial da fé cristã e à
radicalidade evangélica, a marca que caracteriza estes primeiros seis
meses. Uma atitude que dá a força e a credibilidade necessárias
a mensagens como aquela em que pedia a paz na Síria, que deu lugar a um
evento extraordinário, sem precedentes, como a vigília de 07 de
setembro. Com o Papa que rezou durante quatro horas na Praça São Pedro, aos pés do ícone mariano “Salus Populi Romani” e depois na adoração eucarística.
A reportagem é de Andrea Tornielli e publicada no sítioVatican Insider
Original em Italiano: link: http://vaticaninsider.lastampa.it/vaticano/dettaglio-articolo/articolo/francesco-francis-francisco-27820
Fonte: http://blog.comshalom.org/carmadelio