quarta-feira, 11 de junho de 2014

A igreja e a Copa

No dia 13 de maio, próximo passado, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil divulgou uma longa mensagem ou carta sobre a Copa do Mundo. No texto intitulado “Jogando pela vida”, os bispos afirmam que “a Igreja no Brasil acompanha, com presença amorosa, materna e solidária, esse grande evento que reunirá vários países e protagonizará a oportunidade de um congraçamento universal”. Os bispos consideraram o esporte um direito humano de especial valor, dizendo que é necessário a uma vida saudável e que não deve ser negligenciado por nenhum povo. A carta reconhece que “de todos os esportes, o brasileiro nutre reconhecida paixão pelo futebol”. Por isso, a maioria dos brasileiros aguarda a Copa do Mundo com expectativa e alegria. Os bispos acreditam que os brasileiros, conhecidos mundialmente por sua hospitalidade e alegria, “saberão colher aqueles que, de todas as partes do mundo, virão ao nosso País por ocasião da Copa”.

Os bispos notaram que, na preparação para a Copa, houve manifestações populares que “acertadamente reivindicam a soberania do País, o respeito aos direitos dos mais vulneráveis e efetivas políticas públicas que eliminem a miséria, estanquem a violência e garantam vida com dignidade para todos”. Eles externizam sua solidariedade com os que, por causa das obras da Copa, “foram feridos em sua dignidade e visitados pela dor da perda de entes queridos”. Os bispos não aceitam que, por causa da Copa, “famílias e comunidades inteiras tenham sido removidas para a construção de estádios e outras obras estruturantes, numa clara violação do direito à moradia”. A Copa não pode aprofundar as desigualdades urbanas e a degradação ambiental.

Acredito que todas as pessoas de boa  vontade concordarão com os bispos quando eles afirmam que “a Copa do Mundo não se medirá pelos valores que injetará na economia local ou pelos lucros que proporcionará aos seus patrocinadores. Seu êxito estará na garantia de segurança para todos sem o uso da violência, no respeito ao direito às pacíficas manifestações de rua, na criação de mecanismos que impeçam o tráfico humano e a exploração sexual, sobretudo, de pessoas socialmente vulneráveis”. Fortaleza é uma das cidades-sede da Copa e esperamos que os seis jogos que acontecerão aqui sejam jogos de alto grau de esportividade, sem violência e de grande cordialidade. Vamos respeitar e aplaudir os times que ganham e os times que perdem. Vamos trabalhar para que esta Copa do Mundo seja lembrada “como tempo de fortalecimento da cidadania”.
Por Pe. Brendan Coleman - Assessor da CNBB

Leia o texto na íntegra:

Jogando pela vida
Mensagem da CNBB sobre a Copa do Mundo

Direito humano de especial valor, o esporte é necessário a uma vida saudável e não deve ser negligenciado por nenhum povo. De todos os esportes, o brasileiro nutre reconhecida paixão pelo futebol. Explicam-se, assim, a expectativa e a alegria com que a maioria dos brasileiros aguarda a Copa do Mundo que será realizada em nosso país, pela segunda vez.

Fiel à sua missão evangelizadora, a Igreja no Brasil acompanha, com presença amorosa, materna e solidária, esse grande evento que reunirá vários países e protagonizará a oportunidade de um congraçamento universal, “na alegria que o esporte pode trazer ao espírito humano, bem como os valores mais profundos que é capaz de nutrir”, como nos lembra o Papa Francisco.

Os brasileiros, identificados por sua hospitalidade e alegria, saberão acolher aqueles que, de todas as partes do mundo, virão ao nosso país por ocasião da Copa. Nossos visitantes terão a oportunidade de conhecer a riqueza cultural que marca nossa terra, sua gente, sua arte, sua religiosidade, seu patrimônio histórico e sua extraordinária diversidade ambiental.

A Copa se torna, portanto, ocasião para refletir com a sociedade sobre as relações pacíficas e culturais entre todos os povos, bem como sobre os aspectos sociais e econômicos que envolvem o esporte que é harmonia, desde que o dinheiro e o sucesso não prevaleçam como objeto final, conforme alerta o Papa Francisco.

Lamentamos que, na preparação para a Copa, esse último aspecto tenha prevalecido sobre os demais, motivando manifestações populares que acertadamente reivindicam a soberania do país, o respeito aos direitos dos mais vulneráveis e efetivas políticas públicas que eliminem a miséria, estanquem a violência e garantam vida com dignidade para todos. Solidarizamo-nos com os que, por causa das obras da Copa, foram feridos em sua dignidade e visitados pela dor da perda de entes queridos.

Não é possível aceitar que, por causa da Copa, famílias e comunidades inteiras tenham sido removidas para a construção de estádios e de outras obras estruturantes, numa clara violação do direito à moradia. Tampouco se pode admitir que a Copa aprofunde as desigualdades urbanas e a degradação ambiental e justifique a instauração progressiva de uma institucionalidade de exceção, mediante decretos, medidas provisórias, portarias e resoluções.

O sucesso da Copa do Mundo não se medirá pelos valores que injetará na economia local ou pelos lucros que proporcionará aos seus patrocinadores. Seu êxito estará na garantia de segurança para todos sem o uso da violência, no respeito ao direito às pacíficas manifestações de rua, na criação de mecanismos que impeçam o trabalho escravo, o tráfico humano e a exploração sexual, sobretudo, de pessoas socialmente vulneráveis e combatam eficazmente o racismo e a violência.

A sociedade brasileira é convidada a aderir ao projeto “Copa da Paz” e à Campanha “Jogando a favor da vida – denuncie o tráfico humano”. Seu objetivo é contribuir para que a Copa do Mundo em nosso país seja lembrada como tempo de fortalecimento da cidadania. Por meio destas iniciativas, a Igreja se faz presente na vida política e social do país, cumprindo sua missão evangelizadora. Ao mesmo tempo, conclamamos as Dioceses em cujo território estão localizadas as cidades-sede da Copa a oferecerem especial atenção religiosa aos seus diocesanos e aos visitantes.

O jogo vai começar e o Brasil se torna, nesse momento, um imenso campo, sem arquibancadas ou camarotes. Somos convocados para formar um único time, no qual todos seremos titulares para o jogo da vida que não admite espectadores. Avançando na mesma direção, marcaremos o gol da vitória sobre tudo que se opõe ao bem maior que Deus nos deu: a vida. Essa é a “coroa incorruptível” (1Cor 9,25) que buscamos e que queremos receber ao final da Copa. Então, seremos todos vencedores!

Que a padroeira do Brasil, Nossa Senhora Aparecida, nos agracie com sua bênção e proteção neste tempo de fraternidade e congraçamento entre os povos

Cardeal Raymundo Damasceno Assis
Arcebispo de Aparecida
Presidente da CNBB

Dom José Belisário da Silva, OFM
Arcebispo de São Luís do Maranhão
Vice-Presidente da CNBB

Dom Leonardo Ulrich Steiner
Bispo Auxiliar de Brasília
Secretário Geral da CNBB